quinta-feira, 14 de fevereiro de 2013

Vila Liberdade




Estou tendo a oportunidade de acompanhar a luta da comunidade da Vila Liberdade, incendiada no último domingo, localizada exatamente ao lado do novo estadio do grêmio. A Arena, grande empreendimento da OAS, aquela mesma empreiteira que financiou em 550 mil a campanha do atual prefeito. A história dos reais motivos do incêndio até hoje restou mal contada e o corpo de bombeiros levou 7 horas para “apagar” o fogo, que na verdade consumiu tudo enquanto o efetivo assistia, com os caminhões sem água, no local. 

Cerca de 90 famílias perderam tudo. Lhes restou a vida e a roupa do corpo. Uma parte da comunidade foi levada para uma escola-abrigo, onde recebe toda a assistência necessária e muita doação (a Força sindical atua como voluntária no local, e cumpre um papel que o poder público deveria realizar). Outra parte das famílias foram para casas de parentes e uma terceira parte, o maior grupo, acampou em frente à área que lhes pertence, no leito da Voluntários da Pátria, ao lado da Free Way. Esse grande grupo de pessoas está completamente desassistido pelo poder público, até esta madrugada. Até hoje nem um assistente social ou agente de saúde passou por lá. Por outro lado a guarda municipal e a brigada militar estão 24 horas por dia fazendo “a segurança do local”.


As principais reivindicações do povo que ocupa a área são: a garantia expressa e segura de que serão reassentadas no mesmo local em que viviam; a construção de casas de emergência habitáveis, que contemplem as especificidades das famílias (que têm carrinhos, cavalos, carroças...); e assistência social, que garanta, de imediato, que as famílias tenham alguma dignidade, mesmo estando no leito da faixa. Esses últimos dias em Porto Alegre a sensação térmica chegou a 50º ao meio dia, e no local todas as pessoas estão diretamente expostas ao sol. Elas contam somente com a solidariedade das gentes, das empresas e dos sindicatos que conseguem entregar suas doações, tendo em vista que o município têm orientado todas as doações exclusivamente pra escola, já abarrotada de roupa, água, alimentos. Há sindicatos, advogados populares, promotores, vereadores e deputados de esquerda interessados no tema, prestando algum auxílio e cobrando providências do município. 




Há alguns voluntários contribuindo com a produção de alimentos e com a organização do acampamento. A prefeitura ainda não se comprometeu efetivamente com nenhuma das reivindicações das que já citei, e neste domingo, dia 4, na escola Giudice do Humaitá haverá assembléia (aberta para a população em geral) para apresentação do projeto habitacional, com a presença do prefeito Fortunatti (PDT), em tese. A expectativa é de que o prefeito se comprometa, assinando um termo de compromisso com as reivindicações da comunidade, e de que hajam casas de emergência suficientes, construídas para as famílias, o mais breve possível. As pessoas que estão na luta são exemplos de força, de coragem, de resistência. Inclusive as crianças. Alguns, algumas, trabalham pelo coletivo sem parar, e dividem até o que lhes falta. Já são muitas as entidades envolvidas e, certamente, não aceitaremos qualquer outro destino para as famílias, além do que elas decidirem.


Aprendemos nesses dias com as famílias sobre a necessidade de se organizar pra sobreviver nesse sistema - e para enfrentá-lo, sobre possibilidade de recomeçar sempre, ainda que do zero, e que só a luta muda a vida.

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