segunda-feira, 15 de junho de 2009

Pra que escrever? Pra quem, afinal?


Escrevo por que gostaria de tocar com as minhas mãos e com as minhas palavras cada injustiçado e, especialmente, cada injustiçada do mundo. Escrevo, na verdade, para os que não podem me ler.

Acirram-se as barbáries contra os pobres, a cada dia, seguida pela ilusão perversa de que o capitalismo melhora, colocada pelos jornais e pela tevê. Ele não melhora, não se torna justo à maioria, quiçá a todas/os, em hipótese alguma! A não ser que deixe de ser o que é; porque ele se funda, se aprofunda e se legitima na fome e na sede, no esquecimento e no endividamento de quase todos.

Diminuem os desempregados e milhares ainda são os trabalhadores e as trabalhadoras escravas. E há que se perguntar sobre a saúde, as condições e os honorários da maioria desses trabalhadores empregados agora.

Ampliam-se as vagas no ensino básico e diminuem-se os vencimentos das professoras. E nas escolas, se cumpre o programa da resignação, do aceite, do silêncio, da obediente e muda mão-de-obra.

Não há quem queira o retorno das ditaduras opressoras e tampouco há quem faça valer a democracia como um direito conquistado ao sangue, à tortura de mulheres e de homens em nome da liberdade e da justiça.

Investe-se 0,2 por cento a mais em educação, 0,3 em saúde pública e ainda são as mulheres as massacradas pelo machismo, simbólico, gritado e silenciado, intangível e objetivo, difundido pela escola, pela família, de novo pela tevê e legitimado pelos poderes públicos legais e podres, que nos negam a liberdade e nos atribuem toda a culpa.
O racismo, da história contada na escola e materializado em discriminação por todos os cantos do mundo, foi superado? Aumenta a cada segundo, eu diria.

Estará o mundo melhor?
Hoje de manhã enterramos um padre, identificado com a teologia da Libertação. Ocupava um cargo importante na Igreja do Brasil e doara sua vida pela vida da juventude. Foi morto por três tiros na cabeça, disparados por mãos de meninos pobres, vítimas da negação de um mundo que parece estar ao contrário. Lhe queriam roubar o carro e lhe tiraram também a vida, que parecia valer menos.

Será pessimismo meu? Prefiro chamar irresignação, insubordinação ou esperança mesmo, mas alimentada da verdade, essa coisa concreta que não pára de acontecer, que meus olhos vêem e minha pele sente.

Afinal, não há vida digna possível no capitalismo. Para sobreviver, há que se submeter, ou roubar ou explorar gentes, povos, direta ou indiretamente. O digo por que o vejo desde criança: minha mãe, para sobreviver e nos garantir sustento se submete, é explorada, tem sua saúde sugada, maltratada por vencimentos ínfimos, para não dizer desonestos, ainda hoje e pela vida inteira. Porém, quando a morte lhe bateu à porta, foi até recebida com delicadeza à sala mas logo mandada à merda por minha mãe. Ora, uma existência de mais de quarenta anos de pura exploração e silêncio lhe rendera um pouco de indignação e postura.

Por isso escrevo. É que sinto um amor que, precisamente por amar, sente raiva e denuncia.