segunda-feira, 31 de maio de 2010

Ainda sobre as contradições.



Um trabalhador no corte de cana corta e carrega, em média, 12 toneladas por dia, divididas de 15 em 15 Kg. Realiza em média 36.630 flexões e perde 8 litros de água. Caminha 8.800 metros e despende 366.300 golpes de podão. Os que cortam menos que 10 toneladas diárias são demitidos antes de completar três meses de contrato.

Quantas horas trabalham, quantos sóis enfrentam, quantas dores sentem, quantas vidas morrem esses trabalhadores para que tenhamos nossos cafés adoçados, ou para que aqueles poucos que lucram tanto com o etanol e com o alcool enriqueçam ainda mais?

O regime de trabalho e o salário que recebem os trabalhadores do corte da cana, chamados bóias frias, é um dos mais injustos do mundo.

Não há trabalhador que faça opção pelo trabalho escravo. Tampouco existe a necessidade de submeter alguém a este regime em pleno século XXI, quando há maquinários modernos apropriados para o corte de cana de precisão.

As contradições, que movem o Brasil e o mundo, são profundas demais. A irracionalidade do capitalismo ultrapassou qualquer limite e já não se pode mais falar em suportá-lo. Por aqui, a justiça parece se tornar cada dia mais distante.

É por isso que hoje, no século XXI, no ano de 2010, mais do que nunca, faz muito sentido falarmos em socialismo; num sistema onde já não haja empobrcidos, humilhados, escravos, porque não haverá milhonários roubando nossas forças, nem nossas saúdes, nem nossos desejos.

Sua urgência aumenta a cada dia quando um trabalhador da cana ressucita para a labuta que o matou no dia anterior;

quando cada empresa decide explorar e roubar ainda mais o mundo e ainda mais gentes para aumentar seu lucro;

quando cada trabalhador adoece de tanto vender, por misérias, suas mãos de obra;

quando cada jovem tomba nas periferias brasileiras (são quase todos negros e são todos pobres);

quando cada indignação se veste de esperança e sai pra se encontrar com outras, pra dançar a ciranda da resistência e enfrentar.

terça-feira, 11 de maio de 2010


"Assim como hoje se fala em direitos dos homossexuais, daqui a pouco vão achar os direitos dos pedófilos." (Dom Dadeus Grings, Arcebispo de Porto Alegre, em declaração oficial sobre a pedofilia e a igreja).

Dom Dadeus,

Com todo o respeito (que o senhor não tem), chega de declarações infames sobre a pedofilia e, principalmente, a respeito da homossexualidade! Nós cristãs e cristãos nos envergonhamos e nos desanimamos com essas palavras de criminalização. Trate de tomar providências em relação à pedofilia dentro da igreja, por que dos direitos dos homossexuais tratamos nós, cidadãs e cidadãos desejosos da justiça social, da diversidade, da tolerância, do respeito e da democracia.

Costumo dizer que a igreja católica, que antes de ser católica é cristã, não é uma. É pelo menos quatro, segundo João Batista Libânio. Portanto não devo me envergonhar em ser católica, mesmo com as declarações recentes do arcebispo. Pertencemos a cenários distintos de uma mesma igreja. O bispo à igreja conservadora da opus dei, eu à igreja da práxis libertadora.

Mas como é dificil... Como me dizer católica por aí se um pastor de minha igreja criminaliza @s homossexuais e @s coloca no mesmo patamar dos padres pedófilos? Como consentir com tamanha hipocrisia de quem, ao defender a igreja das acusações de pedofilia, acusa oprimid@s gratuitamente? Tenho certeza que estamos em lados opostos. Nós, do lado dos gays, das lésbicas, das travestis, d@s negros, dos indígenas, dos empobrecidos, d@s jovens, das mulheres que são sujeitos de direitos e de suas vidas. Eles, do lado da moral opressora que presta um desserviço enorme ao cristianismo, à liberdade e à democracia.

Perdoem-me companheir@s defensores da unidade dos cristãos. Mas não pude me calar indiferente.

Por uma igreja libertadora e por um estado laico!

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Blogs são ferramentas muito interessantes. A cada dia me interesso mais, apesar de não ter tempo para escrever. Visito inúmeros, geniais. Dentre estes, quero sugerir o "uma liberdade virtual", de car@s e querid@s companheir@s. Hoje, como na maioria dos meus dias, não tive uma inspiração teórica sistematizada para postar. Vale dizer que a nossa inteligência é multipla, colorida, criativa, concreta não podendo ser expressa apenas através da escrita. Hoje tive um insite fotográfico, visual. E fiz essa montagem que coloquei no topo do blog, com a ajuda do Sebastião Salgado e do Carlos Marighella, para dar mais beleza a este espaço - um pouco da beleza que acredito verdadeira -na vontade de dizer o que ultrapassa as palavras.

E a boa imagem é aquela que fala sozinha, sem tradutores pretenciosos. A imagem que quer dizer exatamente o que diz.

A dedico às corajosas e aos corajosos que encontram sentido para as suas vidas na luta por um mundo melhor.