terça-feira, 18 de agosto de 2009

Hoje eu não consegui trabalhar.

Eu tinha um sem-número de coisas a fazer. Tinha que comprar tintas pros cartazes que faremos para o Grito dos/as Excluídos. Tinha o relatório da última reunião da equipe nacional da PJE para fechar. Mandar e-mail, fazer ligações para convidar gentes para o nosso curso de assessores de outubro (9 a 12/10 - SP). Agilizar a diagramação do subsídio “Como Iniciar Grupos de Jovens nas Escolas”, 2ª edição. Ligar pra CNBB pra saber do envio do material da Semana do/a Estudante que atrasou muito. Organizar a reunião das Pastorais da Juventude do Brasil. Comprar passagens. Ir no banco. Ler os e-mails. Responde-los. Entrar em contato com as pessoas que conheço da Bahia, pois irei pra lá semana que vem visitá-los, levar materiais e propor articulação da PJE. Mas não deu.


Quando eu comecei o trabalho, entrou pela porta da secretaria, como quem entra na sua própria casa, um jovem de 15 anos da PJE de Canoas que atua nos Grupos Alternativos da PJE, em escolas públicas. Começou a me contar do ato “Fora Yeda” (governadora corrupta do RS) que participou, me falar das pessoas que encontrou, dos amigos que fez. Me falou da sua necessidade em militar também em um partido, pois não agüenta ver as coisas como estão, quieto. Me deixou informada sobre a situação de Canoas, das disputas políticas e tal. Ele já trabalha como mecânico, arruma bicicletas. Me disse, com um sorriso de esperança na cara, que vai juntar um dinheirinho pra tentar ir pro Seminário Nacional de Militantes da PJE, se for eleito delegado. Me fez lembrar de quando eu estava na CRPJE do RS, querendo ir pra Ampliada de 2007 sem a menor condição financeira pra isso. E me coloquei junto dele.


Ele foi pra aula, atrasado, de tanto que falamos. E eu, completamente entusiasmada com a nossa prosa, voltei a trabalhar. Não deu 10 minutos, entram pé-por-pé na minha sala e espirraram ululantemente , me assustando profundamente, uma menina e um menino, ambos de 16, atores, também da PJE de Canoas. Rimos muito e os xinguei pelo susto! Depois disso, começaram a me perguntar sobre o Seminário Nacional de Militantes da PJE, de janeiro de 2010. Me falavam, empolgados, da vontade que sentem de participar deste espaço. Os quatro olhos que estavam diante dos meus me ofuscaram a vista enquanto eu falava do quão legal é conhecer gentes de outros estados, dos sotaques, das comidas, dos testemunhos de vida que são.


O menino foi embora, tinha aula também. E a menina ficou. Assim, espontaneamente, começamos a conversar sobre a sua experiência, trabalhando na nucleação de um grupo de jovens numa escola pública das mais precárias de Canoas. Me relatou das dificuldades. Fez críticas sensíveis, todavia profundas, à PJE. Disse que sonhava, assim com essas palavras, com uma PJE que estivesse presente na luta por uma educação diferente, transformadora. Me disse, de um jeito meigo e propositivo, que discordava da nossa demagogia quando discutimos educação pública com estudantes do ensino privado... Me contou, não lembro bem porque, que é evangélica, que gosta muito de ir ao culto, mas que discorda do assistencialismo que praticam, e que por isso que ela é da PJE. “Porque Bíblia não enche barriga, né?”, no seu dizer. Ela foi, correndo pra aula, depois de um longo abraço apertado e um “Obrigada por me ouvir, Tábata!”. E eu, respondi, já delonge, “Querida, eu que agradeço por me lembrares porque milito na PJE. Sabe que ás vezes, na correria de todo dia, a gente esquece?”.


São 20h10. Estou na secretaria desde às 9h30 da manhã e tudo o que pude fazer quando ela foi embora foi escrever esta partilha, pra dividir com vocês o que não cabe só em mim.

Um grande abraço, nessa esperança nossa.