Me afastei da militância partidária, no PT, há um ano. Me
filiei em 2012 e me desfilio em 2015. Primeiro, me retirei
das instâncias de coordenação que fazia parte, e logo depois da vida
partidária, de um modo geral. E nesse processo entendi que o meu afastamento
progressivo era fruto de uma profunda insatisfação pessoal e política, se é que
as coisas se apartam assim. Por um lado por ser mulher e não poder mais
suportar assédios de distintas ordens - conviver no partido com ex-namorado
violento, deputados abusados e tarados, dirigentes machos que, no auge da sua
posição política, não tinham tempo pra escutar com respeito opiniões de mulheres
dirigentes, desde os seus lugares de não privilégio. Coisas corriqueiras, na
política como na vida, mas coisas que aprendi, a duras penas, a desnaturalizar
e não aceitar quieta. Por outro lado, me
afastei por compreender que um partido representante da classe trabalhadora
precisa de uma estratégia real, um caminho traçado com teoria revolucionária,
luta cotidiana e povo, pra ter condições de ocupar com responsabilidade esse
lugar histórico (de vanguarda, por assim dizer).
Elementos ausentes num PT que “luta” sistematicamente por
reeleições, que em muito pouco opina nos mandatos que elegeu, que se faz refém,
mais a cada dia, do grande capital e, na mesma proporção, se afasta dos
compromissos que o fundaram. Se não serve como agente histórico, que disputa as
estruturas tendo em vista um rumo socialista, serve como legenda de aluguel.
Serve pra que as megaempresas, que esgotam as pessoas e o mundo, elejam sua
gente de confiança. Ou alguém se ilude que um deputado federal que recebe 5
milhões de reais de uma empresa terá um compromisso visceral com as demandas
populares?
O capitalismo, com certo grau de autoconsciência e
estratégia, que se apropria da cultura, da história e até dos desejos humanos,
também se apropria das ferramentas feitas pela resistência para o confrontar. E
pra saber o quanto resta de subversivo ao PT não precisa ser especialista. Com
um pouco de boa vontade se percebe que a ordem engoliu o rebelde.
O que queria mesmo dizer é que, ao contrário do que dizem,
não me afastei do partido porque sou recalcada, fraca, covarde, louca,
desqualificada, alienada ou qualquer outro adjetivo associado a mim e às
mulheres que berram contra o machismo, onde estão. Me afastei porque,
racionalmente, não faz sentido suportar tantas contradições, defender um
partido que esqueceu a que veio, um governo meio personalista meio fantoche, só
pelo pragmatismo, pela disciplina ou pela fé. O grande aprendizado da vida, ao
menos até hoje, acho que foi justamente o de jamais renunciar a minha
capacidade e o meu direito de pensar.