quarta-feira, 9 de março de 2011

Será possível mudar o mundo?


"É certo que mulheres e homens podem mudar o mundo para melhor, para faze-lo menos injusto, mas a partir da realidade concreta a que “chegam” em sua geração. E não fundadas ou fundados em devaneios, falsos sonhos sem raízes, puras ilusões.O que não é porém possível é sequer pensar em transformar o mundo sem sonho, sem utopia ou sem projeto. Possivelmente, um dos saberes fundamentais mais requeridos para o exercício de um tal testemunho é o que se expressa na certeza de que mudar é difícil, mas é possível. É o que nos faz recusar qualquer posição fatalista que empresta a este ou àquele fator condicionante um poder determinante, diante do qual nada se pode fazer." (Paulo Freire, Pedagogia da Indignação, Unesp, 1997.) Ainda bem.

Hoje, lendo o editorial do Brasil de Fato, refleti profundamente sobre a viabilidade de a nossa geração materializar mudanças sociais, políticas, econômicas relevantes agora e num próximo período.

Quem milita em movimentos, pastorais sociais, partidos de esquerda, tem o seu cotidiano marcado pelo embate: somos críticos na sala de aula, estudamos para nos qualificarmos para a luta, participamos do movimento estudantil, estamos em grupos de extensão, de pesquisa e temos uma postura crítica. Nos espaços de militância também somos críticos, tentamos ser pedagógicos. Somos inquietos e inquietas. No trabalho nos sindicalizamos, compramos umas brigas, fazemos diferente. Na família somos menos machistas, menos racistas, menos homofóbicos. Debatemos política no ônibus, em casa, na rua, na igreja, por e-mail. Fazemos blogs que pautam a luta de classes de um modo geral.

E isso é imprescindível. Apesar de não sabermos a medida, sabemos que esses pequenos e grandiosos esforços transformam vidas, despertam consciências, contribuem na organização das pessoas e têm conquistas reais.

Há aqui um porém. Todo esse esforço militante que marca a vida da gente não produzirá mudanças sólidas se não tivermos a capacidade de estabelecer prioridades, ter objetivos, metas claras pras nossas vidas. O tarefismo nos faz militontos. E a militância revolucionária tem que se aprofundar nos temas pelos quais se luta; temos que ler, escrever, compartilhar, se informar, irformar e formar outras pessoas, além de participar dos espaços e assumir as tarefas...

Por outro lado precisamos ainda decidir coletivamente por um eixo em torno do qual gravitem todas as lutas, onde elas desaguem e se alimentem, emprestem e, sobretudo, ganhem um sentido maior, abandonando o caráter fragmentário que vem assumindo e passem a constituir um só corpo, uma só força. Precisamos, mais uma vez, ter priodidades de pauta. Nossas pautas são muitas. Todas válidas, tudo igualmente importante. E onde tudo é importante, nada é importante (como foi dito no editorial do Brasil de Fato, ed. nº418.).

As mudanças significativas fazem parte de um projeto de sociedade solidária, justa e democrática que temos chamado de socialismo. Contudo, para acreditar que ele é possível e para fazê-lo temos muito a avançar. E acho que podemos começar por aí, definindo um eixo. E a partir do eixo, assumindo os riscos e as contradições da unidade (com várias ressalvas, tendo em vista que se aliar ao inimigo é estar contra a maioria e provavelmente no caminho errado), talvez comecemos a caminhar a passos largos.

Sozinhos vamos mais rápido. Juntos, vamos mais longe. Se trata de ir com quem vai no mesmo rumo.

4 comentários:

Daniel disse...

Taubinha,

Esse teu texto é lindo e sobretudo importante.
Tu sabe que este teu companheiro de lutas anda muito angustiado.
Muito angustiado porque não ando conseguindo renovar minha esperança e fico com a angustia de quem tem certeza com todas as forças que é preciso agir, como aquela frase, não me lembro bem de quem que diz "que não improta o que fizreram de nós, mas aquilo que faremos com o que fizeram de nós".
Uma coisa que um cara desses do passado diz num livro é que a dominação do capitalismo, é uma dominação totalitária, portando precisa de uma alternativa que seja total, que o supere.
Nesse sentido é dificil acreditar que mesmo a ação apaixonada e esperançosa de milhares de pessoas críticas e militantes consiga arranhar essa dominação totalitária sem uma revolta espontânea geral ou sem um trabalho profundo( "tenaz e prolongado" como diz esse cara de quem falei)que realmente se apresente como uma alternativa global.
O Mauri Iasi defende que no processo de consciência, na sociedade capitalista, partimos de uma cosnciência individual (e hegemonicamente individualsita), reforçada principalmente pela estrutura familiar burguesa; num segundo momento pdemos desenvolver uma consciência de grupo, que pode refletir (falando aqui grosseiramente) numa cosnciência comunitária ou então corporativa; um terceiro salto seria para uma consciência de classe, em síntese uma capacidade de pensar essas saídas globais, pensar de forma estragégica, pensar do começo meio ao fim como é possível transformar o mundo.

Na teoria do Gramsci, mais ou menos assim, ele diz que o partido, teoricamente, é a ferramenta capaz de articular essa alternativa global.

Mas o que fazer quando mesmo no partido as pessoas não parecem superar uma cosnciência puramente individual ou corporativa?

Não que se tenha que abrir mão dos indivíduos e das individualidades, ou mesmo dos grupos ou classes, todas são dimensões que fazem parte dessa totalidade e muitas vezes os partidos e os coletivos se fecham ou não oferecem espaços para agregar as individualidades...

Mas eu não ando conseguindo ter esperança em que um monte de açõesidnividuais ou de pequenos grupos, mesmo dentro de partidos, vá no fim contribuir para transformar o mundo.

Até pode contribuir e de fato contribui, mas de uma forma quase imperceptivel que eu seria mais levado a dizer que assim não se pode mudar o mundo.

No fundo essa idéia de que cada um fazendo a sua parte isoladamente alguma coisa melhora é uma poderosa ideologia dominante

Bejos

mão

Luna Blanca disse...

Ótimo texto. Voltarei sempre.
Fica na paz.

Felipe Vencato disse...

Pensei nisso a tempos atrás.
Todos querem suas lutas e reivindicações atendidas. Mas quem vei querer abdicar de suas bandeiras em favor de algo maior. ("O que pode ser maior do que minha luta?")

O eixo comum é uma saida, mas também uma utopia.

Ótimo texto!

Anônimo disse...

Mamão,

De fundo o meu texto pode ter deixado essa ideia de que cada um deve fazer a sua parte. Masnão foi a intenção; em outro texto, contemporâneo desse, afirmei que a ideia de que cada um deve fazer a sua parte é o mesmo que dizer que cuspir no fogo apaga incêncio...

Que bom teu comentário. Ampliou os horizontes do meu texto, aprofundando o raso.

Mas mesmo o partido da classe trabalhadora, por si só, não fará a revolução hoje, sem agregar todos os demais setores da esquerda; se não encurralar a burguesia.

E uma forma de agregar é optar por um eixo. Uma grande pauta que seja identificada por todos e todas como a questão estratégica do momento.

Tenho refletido que a democratização da mídia poderia ser essa chave...


Beijos inquietos.