terça-feira, 18 de agosto de 2009
Hoje eu não consegui trabalhar.
Quando eu comecei o trabalho, entrou pela porta da secretaria, como quem entra na sua própria casa, um jovem de 15 anos da PJE de Canoas que atua nos Grupos Alternativos da PJE, em escolas públicas. Começou a me contar do ato “Fora Yeda” (governadora corrupta do RS) que participou, me falar das pessoas que encontrou, dos amigos que fez. Me falou da sua necessidade em militar também em um partido, pois não agüenta ver as coisas como estão, quieto. Me deixou informada sobre a situação de Canoas, das disputas políticas e tal. Ele já trabalha como mecânico, arruma bicicletas. Me disse, com um sorriso de esperança na cara, que vai juntar um dinheirinho pra tentar ir pro Seminário Nacional de Militantes da PJE, se for eleito delegado. Me fez lembrar de quando eu estava na CRPJE do RS, querendo ir pra Ampliada de 2007 sem a menor condição financeira pra isso. E me coloquei junto dele.
Ele foi pra aula, atrasado, de tanto que falamos. E eu, completamente entusiasmada com a nossa prosa, voltei a trabalhar. Não deu 10 minutos, entram pé-por-pé na minha sala e espirraram ululantemente , me assustando profundamente, uma menina e um menino, ambos de 16, atores, também da PJE de Canoas. Rimos muito e os xinguei pelo susto! Depois disso, começaram a me perguntar sobre o Seminário Nacional de Militantes da PJE, de janeiro de 2010. Me falavam, empolgados, da vontade que sentem de participar deste espaço. Os quatro olhos que estavam diante dos meus me ofuscaram a vista enquanto eu falava do quão legal é conhecer gentes de outros estados, dos sotaques, das comidas, dos testemunhos de vida que são.
O menino foi embora, tinha aula também. E a menina ficou. Assim, espontaneamente, começamos a conversar sobre a sua experiência, trabalhando na nucleação de um grupo de jovens numa escola pública das mais precárias de Canoas. Me relatou das dificuldades. Fez críticas sensíveis, todavia profundas, à PJE. Disse que sonhava, assim com essas palavras, com uma PJE que estivesse presente na luta por uma educação diferente, transformadora. Me disse, de um jeito meigo e propositivo, que discordava da nossa demagogia quando discutimos educação pública com estudantes do ensino privado... Me contou, não lembro bem porque, que é evangélica, que gosta muito de ir ao culto, mas que discorda do assistencialismo que praticam, e que por isso que ela é da PJE. “Porque Bíblia não enche barriga, né?”, no seu dizer. Ela foi, correndo pra aula, depois de um longo abraço apertado e um “Obrigada por me ouvir, Tábata!”. E eu, respondi, já delonge, “Querida, eu que agradeço por me lembrares porque milito na PJE. Sabe que ás vezes, na correria de todo dia, a gente esquece?”.
São 20h10. Estou na secretaria desde às 9h30 da manhã e tudo o que pude fazer quando ela foi embora foi escrever esta partilha, pra dividir com vocês o que não cabe só em mim.
Um grande abraço, nessa esperança nossa.
quarta-feira, 1 de julho de 2009
Escute o que estão dizendo eles

Do Kasaquistão o presidente voa para a Amazônia. E não vem só, traz uma grande equipe. Vêm os ministros Mangabeira e dona Dilma, vem seu Carlos Minc, seu Stefanes e seu Cassel, entre outros. Uma revoada de ministros com o presidente estão na imensa Amazônia. Hoje, para o governo do Sr. Luiz Inácio, será o dia da Amazônia, um negócio para entrar na historia, pois nunca antes neste país (como gosta de falar o presidente) um governo e seus ministros vieram à Amazônia num só dia em vários lugares - de Rondônia a Marabá no Pará, de Mato Grosso a não sei onde mais, é o dia da Amazônia.
O que vem fazer toda essa equipe do alto escalão federal à região? Virá aparelhar o Ibama com gente e recursos para garantir o melhor cuidado com a natureza? Para isso, o IBAMA precisa de ao menos 1.200 fiscais de campo, além de veículos e outros equipamentos sensoriais. Virá a equipe presidencial garantir e homologar as terras indígenas? (Se o presidente que está no Mato Grosso tiver um mínimo de curiosidade para visitar os indígenas Guaranis verá que eles vivem num desespero por falta de suas terras invadidas por fazendeiros). Virá trazer recursos para pagar os amazônidas que não derrubam florestas?
Será isso que eles todos irão falar hoje neste tal dia da Amazônia? Nunca antes nesse país, uma equipe federal tão grande esteve ao mesmo dia, nas mesmas horas em vários pontos da Amazônia, inclusive o presidente, que vai almoçar churrasco com nada mais, nada menos do que o Sr. Blairo Maggi, o moto serra nacional, o homem que patrocina a maior área desmatada da Amazônia para cultivar soja. Nunca antes nesse país se investiu tanto em obras que destroem a biodiversidade da Amazônia, em nome do crescimento econômico do Brasil, do outro Brasil. Quer ver? Escute o que estão dizendo eles.
[Rádio Rural AM de Santarém-PA. Editorial de 19 de maio de 2009]
Padre diocesano e Coordenador da Rádio Rural AM de Santarém-PA
segunda-feira, 15 de junho de 2009
Pra que escrever? Pra quem, afinal?

Acirram-se as barbáries contra os pobres, a cada dia, seguida pela ilusão perversa de que o capitalismo melhora, colocada pelos jornais e pela tevê. Ele não melhora, não se torna justo à maioria, quiçá a todas/os, em hipótese alguma! A não ser que deixe de ser o que é; porque ele se funda, se aprofunda e se legitima na fome e na sede, no esquecimento e no endividamento de quase todos.
Diminuem os desempregados e milhares ainda são os trabalhadores e as trabalhadoras escravas. E há que se perguntar sobre a saúde, as condições e os honorários da maioria desses trabalhadores empregados agora.
Ampliam-se as vagas no ensino básico e diminuem-se os vencimentos das professoras. E nas escolas, se cumpre o programa da resignação, do aceite, do silêncio, da obediente e muda mão-de-obra.
Não há quem queira o retorno das ditaduras opressoras e tampouco há quem faça valer a democracia como um direito conquistado ao sangue, à tortura de mulheres e de homens em nome da liberdade e da justiça.
Investe-se 0,2 por cento a mais em educação, 0,3 em saúde pública e ainda são as mulheres as massacradas pelo machismo, simbólico, gritado e silenciado, intangível e objetivo, difundido pela escola, pela família, de novo pela tevê e legitimado pelos poderes públicos legais e podres, que nos negam a liberdade e nos atribuem toda a culpa.
Estará o mundo melhor?
Será pessimismo meu? Prefiro chamar irresignação, insubordinação ou esperança mesmo, mas alimentada da verdade, essa coisa concreta que não pára de acontecer, que meus olhos vêem e minha pele sente.
Afinal, não há vida digna possível no capitalismo. Para sobreviver, há que se submeter, ou roubar ou explorar gentes, povos, direta ou indiretamente. O digo por que o vejo desde criança: minha mãe, para sobreviver e nos garantir sustento se submete, é explorada, tem sua saúde sugada, maltratada por vencimentos ínfimos, para não dizer desonestos, ainda hoje e pela vida inteira. Porém, quando a morte lhe bateu à porta, foi até recebida com delicadeza à sala mas logo mandada à merda por minha mãe. Ora, uma existência de mais de quarenta anos de pura exploração e silêncio lhe rendera um pouco de indignação e postura.
Por isso escrevo. É que sinto um amor que, precisamente por amar, sente raiva e denuncia.
quinta-feira, 28 de maio de 2009
"Juventude em Marcha Contra a Violência" é nosso lema e nossa postura.

segunda-feira, 18 de maio de 2009
quarta-feira, 13 de maio de 2009
Minha Crisma

Aconteceu na Casa da Juventude, não numa igreja tradicional, mas na capelinha, pessoas em círculo. Foi entre companheiras e companheiros de luta e duma igreja que, pra acontecer não depende da sacristia ou da centralidade do padre ou do Cristo pregado ou dos ritos ou das punições ou dos medos.
terça-feira, 7 de abril de 2009
Fórum da Liberdade

Me surpreendi inúmeras vezes, durante a palestra que presenciei, com a atitude da platéia. De tão passiva e inerte, sorria contemplada quando o palestrante o solicitava com alguma piadinha classista ou homofóbica. Não bastasse os palestrantes anunciantes da desgraça humana, haviam ali centenas de cabeças ocas, com o perdão da expressão, tão grave para mim. Não havia o menor sinal de divergência. Todas e todos ali, mais de 3 mil estudantes, comungando com a barbárie, consentindo com a injustiça social expressa que é o neoliberalismo.
(Veja a resposta em http://celeuma.blogdrive.com/archive/535.html)
domingo, 5 de abril de 2009
A nossa luta é por respeito...

terça-feira, 31 de março de 2009
"Lá tem Jesus, e está de costas"

O objetivo é claro: materializar um muro já edificado ideologicamente, da divisão de classes, da exclusão e do medo. A retórica, claro, é outra, totalmente na moda e aceita pelos que quase nunca questionam: conter a expanção das comunidades e proteger a floresta!
Ao povo das 19 comunidades cariocas, às milhares de mulheres mal remuneradas quando a sorte às emprega, com vários filhos não planejados, hoje sem condições de desenvolvimento humano digno; aos milhares de jovens que sobrevivem sem qualquer perspectiva que não o tráfico; aos milhares de homens subempregados que não tem sequer sua aposentadoria garantida ao fim de uma vida inteira de trabalho agressivo ao corpo e à vida; todas e todos sem acesso à saúde pública de qualidade, sem saneamento básico, sem trabalho justo, sem alimentação regular, a estes/as agora também é imposto que vivam cercados por outro muro, agora feito de tijolos, mas não mais concreto que os outros muros que o capitalismo tem erguido em suas vidas, interrompendo-as.
Claro que os muros são uma barbárie. Uma barbárie feita de tijolos, arames farpados e muito trabalho, muito dinheiro do Estado às empreiteiras privadas e muito cimento.
Que esse muro, que já impedirá o direito constitucional de ir e vir do povo das favelas, não impessa as autoridades e a sociedade fluminense de enxergá-los e enxergá-las e, instínseco ao povo, ernxergarem a negação de todos os seus outros inúmeros direitos, fundamentais, sociais e humanos.
O subúrbio, como canta Chico Buarque, não tem moças douradas, não tem turistas, não sai foto nas revistas. Lá tem Jesus, mas até ele está de costas.
quarta-feira, 7 de janeiro de 2009
É preciso parar Israel
Assim fala o poeta catarinense Cruz e Souza, negro, excluído, abandonado: "Há que ter ódio, ódio são, contra os vilões do amor". Com ele comungo porque, às vezes, o que se pode fazer contra o rugir do canhão? Na Palestina é assim. Desde 1947 que os canhões israelenses amassam casa, oliveiras e vidas. Perdeu-se a conta dos massacres que acontecem quando um ou outro militante, desesperado com a dor da invasão e da prisão sem fim, toma uma atitude radical. Então, para a mídia, palestino que luta contra a dominação é bandido, mas um estado terrorista que mata civis e rouba terra é legal.
A guerra sem fim que aparece na televisão como coisa natural não nasceu ao acaso. Ela começa quando os Estados Unidos, vencedor da segunda guerra, decide dar, à força, um país aos judeus. O país é a Palestina e tampouco o lugar é escolhido ao acaso, é que ali é a porta de entrada para o Oriente Médio, lugar estratégico na geopolítica, portal do óleo negro. A promessa ao fim da guerra era ter dois estados, o de Israel e o Palestino. Mas, com o passar do tempo, os israelenses foram invadindo mais e mais terras, e os palestinos passaram a condição de "terroristas". Não é incrível?
Hoje, os palestinos vivem confinados em duas grandes áreas dentro do seu próprio território. Vivem trancados, presos dentro de altos muros de concreto. Precisam pedir permissão para sair e entrar na suas casas. Têm de viver de olhos baixos, em atitude de submissão. Mandam neles os soldadinhos israelenses quase imberbes que decidem quem e como passar. O mundo inteiro viu crescer o muro e nada foi feito. É que parece que sempre há uma outra emergência para cuidar.
Na Palestina as crianças brincam nas ruas com o olho espichado para os canhões que toda hora insistem em avançar. Parece que nada é suficiente. O governo de Israel tem um único propósito: eliminar até o último palestino da terra, nada menos que isso. E, diante desse crime, instituições como as Nações Unidas ficam caladas ou fazem moções, como se isso pudesse valer de algo. Penso que alguém precisa parar Israel. Já basta! Não é mais possível que se possa seguir admitindo o que acontece naquela terra bendita. Sinceramente eu não sei como, me sinto impotente, aqui, tão longe. Mas, de algum lugar precisa vir a trava. "Ainda verte a fonte do crime. Obstruam-na!", gritava o poeta Mahmud Darwish. Quem o fará?
Os palestinos estão agora sob o fogo de Israel, de novo. Pelas ruas os corpos se espalham. Mulheres, crianças, velhos, jovens, que nunca crescerão. A terra santa se banha de vermelho. As mulheres gritam. E as balas não param. Na TV, quem aparece são os candidatos ao governo de Israel, as autoridades, são eles os que têm a fala. Eu digo que já basta! Que se façam ouvir os gritos das mães, que se veja o vermelho do sangue, porque esta guerra não é um vídeo-game. E que as gentes saiam às ruas, e que pressionem seus governantes para que isso pare. Não é possível que as pessoas achem isso normal. Não é possível que sigam acreditando na Globo e nos jornalistas à soldo.
A Palestina, mais uma vez, está a arder. Mas eu sei que, ainda que todos tombem, sempre haverá quem se lembre. E sempre haverá, forte, o ódio contra os vilões do amor. Assim, tal e qual Mahmud Darwish, cada palestino, mesmo morto, cantará: "Ó rocha sobre a qual meu pai orou, Para que fosse abrigo do rebelde, Eu não te venderia por diamantes, Eu não partirei, Eu não partirei!"
*Elaine Tavares é Jornalista.